PSICOGÊNESE DA
LÍNGUA ESCRITA
INTRODUÇÃO
Desde a década de 80, no Brasil, como em outros países
latinos, é impossível falar de alfabetização sem mencionar a importante
contribuição de Emília Ferreiro para a compreensão de como a criança constrói
progressivamente suas hipóteses sobre a escrita a que está exposta.
Por outro lado, embora a autora deixe claro que não é sua
intenção a de propor uma metodologia de ensino para a alfabetização, a
repercussão das suas reflexões foram imediatas no sentido de alterar a maneira
como coordenadores pedagógicos, gestores e professores viam o ensino de
alfabetização. Nunca na história houvera um reflexo tão rápido entre teoria e
prática na escola, como foi o construtivismo
baseado das reflexões de Emília Ferreiro. E isso tem suas conseqüências
positivas, mas também deu origem a muitos equívocos.
1. DIAGNÓSTICO
DA TURMA
A
sondagem da escrita é um recurso essencial para o professor alfabetizador, pois
permite identificar quais hipóteses as crianças têm acerca do funcionamento da
língua.
Para
detectar o nível de conceitualização da criança, sugere-se um ditado individual
de quatro palavras, evitando ditar o monossílabo em primeiro lugar,
(polissílaba, trissílaba, dissílaba e monossílaba) e uma frase.
Em
seguida, pedirá à criança para “ler” o que escreveu, com a finalidade de
entender como ela “lê”. Adote
uma marcação nos textos ou palavras produzidas pela criança, pois será útil
para registra como a criança lê o que escreve e se ela se detém ou não em cada
letra. Combine antes com a criança que ela pode escrever da melhor forma que
conseguir, mesmo que não convencionalmente.
A
escolha das palavras também deve seguir um roteiro. Deve-se escolher palavras
do mesmo campo semântico (lista de palavras com nome de animais, nome de
brinquedos) e ter cuidado para que as palavras não tenham letras repetidas (
MACACO/ AAO dependendo da hipótese que o aluno esteja ele pode recusa-se a
escrever.)
É
importante que se mantenha o foco: a sondagem deve ser individual, o que torna
necessário propor ao resto da turma uma atividade que dispense ajuda. Dessa
forma, a mudança de um nível para outro só ocorrerá quando o aluno se deparar
com questões que o nível em que se encontra não puder explicar: elaborará então
novas suposições e novas questões e assim sucessivamente. Em decorrência,
pode-se dizer que o processo de assimilação de conceitos é gradativo, o que não
exclui “idas e vindas” entre os níveis. Só
assim o professor estará apto a realizar mediações que permitam efetivamente a
construção da base alfabética da escrita.
A
seguir uma breve análise dos níveis conceituais lingüísticos:
- Nível 1: Pré-silábico:
- Nível 2: Silábico
- Nível 3: Silábico- Alfabético
- Nível 4: Alfabético
2. NÍVEIS DA
ECRITA
Pré – silábico
- O aluno ainda não vislumbra que a escrita tem a ver com a pronúncia das partes de cada palavra. Fazem tentativas de correspondência figurativa entre a escrita e o objeto referido. (Objeto grande-palavra grande, objeto pequeno – palavra pequena).
- Usam as mesmas letras para escrever várias palavras ou recusam-se a colocar letras iguais na mesma palavra.
- Usa desenhos ou rabiscos para representar a fala.
- Acreditam que escrevem apenas o nome das coisas (substantivos)
- Crianças um pouco mais avançadas já entendem que só se escreve com letras.
Silábico
- O aluno faz correspondência quantitativa de sílabas orais (uma letra para cada sílaba na palavra e uma letra para cada palavra na frase ou uma letra por sílaba oral na frase.).
- Começa a compreender que tudo que se diz se escreve, não só os substantivos.
- Faz tentativas de dar valor sonoro para cada uma das letras que compõem uma escrita.
- A criança pode estar silábica na escrita, mas em outra fase na leitura.
- Cada aluno pode ser silábico ao seu modo.
Silábico que escreve:
- Com pseudoletras
- Com letras
- Os que só conhecem as letras do nome.
- Os que só conhecem mais letras ou todas.
- Os que associam as letras aos sons convencionais.
Silábico – alfabético
- Nesta fase o aluno está em conflito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de caracteres.
- A criança descobre que a sílaba não pode ser considerada como unidade, mas que ela é composta de elementos menores, as letras.
- Enfrentam novos problemas:Percebem que uma letra apenas não pode ser considerada uma sílaba, pois existem sílabas com mais uma letra.
- Compreende que a identidade do som não garante a identidade das letras e vice-versa.
- Descobrem que existem letras com a mesma grafia e vários sons e sons iguais com grafias difetentes ( X / CH ) – ( C / K ) – ( L / U). E que na maioria das vezes não se fala o que se escreve e não se escreve o que se fala.(denti, orubu, cadiado)
- Pode grafar algumas sílabas completas e outras incompletas. (Gaia para GALINHA, Gao para GATO)
Alfabético
- Reconhecimento pela criança dos sons das letras.
- Concentrar-se na sílaba para escrevê-la e surge a adequação do escrito com o sonoro.
- Escreve do jeito que fala
- Compreende que cada um dos caracteres da escrita (letra) corresponde a valores sonoros menores que as sílabas.
- Leitura com e sem imagens e surgem os problemas relativos à ortografia.
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